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A verdadeira razão da expulsão dos judeus de Portugal em 1497

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A expulsão dos judeus foi uma decisão política de D. Manuel I justificada por um motivo de força maior que consistia no projecto de uma futura união ibérica sob a égide de Portugal.

O príncipe herdeiro D. Afonso de Portugal, filho de D. João II, casara em 1490 com a infanta Isabel de Aragão filha dos reis católicos e herdeira directa das coroas de Castela e Aragão. Contudo, em 1491, o príncipe D. Afonso morreu em circunstância misteriosas quando se encontrava a passear a cavalo em Santarém (um dos seus aios e única testemunha ocular do acidente do príncipe era castelhano e fugiu para Castela logo após a morte do príncipe português).

Diga-se que o projecto da união ibérica vinha ainda do reinado de D. Afonso V que havia sido candidato ao trono de Castela após desposar a princesa Joana filha de Henrique IV de Castela (embora alguns detractores da princesa tenham dito que a mesma não era filha do rei mas sim de um nobre chamado Beltrán de la Cueva). As pretensões de D. Afonso V acabaram por não surtir efeito após o fim inconclusivo da Batalha de Toro a 1 de Março de 1476, levando a que os reis católicos fossem confirmados como monarcas de Castela e Aragão.

Com a morte de D. João II em 1495 sucedeu-lhe o primo D. Manuel, duque de Beja, que foi aclamado rei como D. Manuel I e uma das suas primeiras preocupações foi a de continuar o projecto de união ibérica gizado pelo seu predecessor e para tal necessitava de contrair matrimónio com a infanta Isabel de Aragão, viúva do príncipe D. Afonso de Portugal, todavia, para selar esse casamento os reis católicos exigiram que D. Manuel expulsasse de Portugal os judeus, à semelhança do que eles próprios haviam feito em Castela e Aragão em 1492.

Nesse contexto e com o intuito de lograr o projecto da união ibérica D. Manuel ordenou então a expulsão dos judeus e também de muçulmanos (denominados popularmente de mouriscos), contudo com a salvaguarda de que todos os que aceitassem converter-se ao cristianismo poderiam ficar em solo português, nascendo então o grupo religioso dos cristãos-novos, maioritariamente composto por judeus convertidos e que passaram a ser vistos com desconfiança pela população composta, maioritariamente, por cristãos velhos, dando origem a episódios pontuais de perseguições a estes cristãos-novos como o Pogrom de Lisboa de 1506. Contudo algumas descrições da época referem que a matança dos judeus convertidos terá sido feita sobretudo por marinheiros flamengos que se encontravam à época em Lisboa.

Infelizmente para Portugal o projecto ibérico acabou por não se concretizar nos moldes que D. João II e D. Manuel queriam uma vez que o único filho de D. Manuel e da Infanta Isabel de Aragão (que morreu durante o parto), foi o príncipe D. Miguel da Paz (que seria herdeiro das coroas de Portugal, Castela e Aragão) e que morreu antes de completar 2 anos de vida, terminando assim o sonho de uma união ibérica sob a égide de um rei português.

Tal projecto seria concretizado cerca de 80 anos depois mas por Filipe II de Espanha, neto de D. Manuel I, que aproveitou a morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir e a idade avançada do cardeal-rei D. Henrique I, para conquistar Portugal com o auxílio dos grandes estrategas militares ao seu serviço, designadamente o Duque de Alba e o Marquês de Santa Cruz. As tropas do Duque de Alba derrotaram o pequeno exército de D. António Prior do Crato na batalha de Alcântara a 25 de Agosto de 1580 tornando Filipe II como rei de Portugal e iniciando então a Dinastia Filipina.

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